Comentário sobre João 5:1-9
On Dezembro 18, 2021 by adminO homem curado nesta história é talvez o menos disposto e o menos grato de todas as pessoas que Jesus cura no Evangelho de João.
O cenário da cura é uma piscina chamada Betzatá perto da Porta das Ovelhas em Jerusalém (João 5:2). Deitados nos pórticos ao redor desta piscina estão muitos inválidos – cegos, coxos e paralíticos (5:3). Os primeiros manuscritos de João não explicam porque os inválidos estão lá, mas os escribas posteriores acrescentaram uma explicação que aparece em certos manuscritos (5:4). De acordo com essa explicação, as pessoas acreditavam que um anjo do Senhor viria e agitaria as águas, e que quem fosse o primeiro a entrar na piscina depois que as águas fossem agitadas seria curado de sua doença.
Quando Jesus vê um homem que está doente há trinta e oito anos deitado ali (João 5:5), ele lhe pergunta: “Você quer ficar bem? (5:6). Poderíamos esperar um retumbante “Sim!”. Em vez disso, o homem oferece uma reclamação: “Senhor, não tenho ninguém para me colocar na piscina quando a água está agitada, e enquanto eu estou fazendo o meu caminho, alguém mais desce à minha frente” (5:7).
Jesus responde à reclamação do homem dizendo: “Levante-se, pegue sua esteira e caminhe” (João 5:8). Imediatamente o homem é curado e pega sua esteira e caminha (5:9). No final do versículo 9, o narrador acrescenta: “Agora aquele dia era um sábado”. É aqui que nossa leitura lecionária termina, mas o leitor ou ouvinte atento reconhecerá que este não é o fim da história. Como sempre acontece, a cura de Jesus de alguém no sábado cria problemas.
À medida que a história avança, o homem será confrontado pelos “judeus”, ou seja, pelas autoridades religiosas judaicas, que lhe dizem que, por ser o sábado, não é lícito carregar sua esteira (João 5:10). O homem responde que ele só está fazendo o que o homem que o curou lhe disse para fazer (5,11). Quando perguntado quem foi quem o curou, o homem responde que ele não sabe (5:12-13).
Jesus depois encontra o homem curado no templo, e então o homem curado continua a dizer às autoridades judaicas que foi Jesus quem o curou (João 5:14-15). Então as autoridades começam a perseguir Jesus porque ele o curou no sábado (5:16). Quando Jesus lhes diz que ele simplesmente está fazendo a obra de seu Pai (5:17), as autoridades judaicas procuram ainda mais matar Jesus, “porque ele não só estava quebrando o Sábado, mas também chamava a Deus de seu próprio Pai, fazendo-se assim igual a Deus” (5:18).
Se alguma vez formos tentados a pensar que a cura de Deus depende da qualidade ou quantidade da fé de uma pessoa, esta passagem oferece uma forte correção. O homem que Jesus cura não mostra nenhum sinal de fé em Jesus ou de gratidão pelo que Jesus tem feito por ele. Quando confrontado pelas autoridades religiosas sobre carregar sua esteira no Sábado, ele desvia a culpa para o homem que o curou, cujo nome ele nem sequer se preocupou em aprender. E quando volta a encontrar Jesus e aprende seu nome, ele imediatamente diz às autoridades a identidade do homem que elas procuram. Talvez o homem pense que se as autoridades forem atrás de Jesus, o deixarão em paz.
As autoridades religiosas estão convencidas de que Jesus é um pecador porque ele cura no sábado. Da perspectiva do Evangelho de João, porém, a incredulidade é o pecado fundamental; é a rejeição daquele que foi enviado por Deus. Quando Jesus encontra o homem curado no templo, ele lhe diz: “Vede, fostes curados! Não peques mais, para que nada pior te aconteça” (João 5:14).
O “pecado” a que Jesus se refere é o pecado da incredulidade. Há coisas piores do que ser censurado pelas autoridades religiosas por quebrar o Sábado. Se o homem persistir em sua incredulidade e indiferença a Jesus, corre o risco de incorrer no julgamento de Deus, o que importa muito mais do que o das autoridades religiosas.
O homem, embora bem feito, parece cego ao poder e presença de Deus em Jesus e mais preocupado com sua posição com aqueles em posições de poder terreno. Ele não perde tempo em relatar a identidade de Jesus para as autoridades, presumivelmente sabendo que elas virarão seu julgamento sobre Jesus. O bem que Jesus faz não se encontra com fé ou gratidão, mas sim com perseguição. No entanto, Jesus continua fazendo a obra vivificante de seu Pai, independentemente das conseqüências.
Alguém poderia se perguntar por que Jesus escolheu este homem em particular para curar de todos os inválidos que estão ao redor da piscina de Betzatá. Parece que ele poderia ter feito uma escolha melhor! Mas aqui vemos que a compaixão e o poder de cura de Jesus não são reservados apenas para aqueles que “merecem” – para aqueles cuja fé é grande e que respondem à cura acreditando e seguindo Jesus. Certamente Jesus cura também essas pessoas. Mas aqui Jesus cura aquele cuja falta de fé o leva a cooperar com aqueles que perseguem Jesus, que até procuram matar Jesus (João 5:18).
O Evangelho de João não responde à questão de por que certas pessoas são curadas e outras não. Mas esta passagem deixa claro que a cura não é uma questão de ter “bastante” fé (como se isso pudesse ser medido). Não é assim que Jesus opera. É claro que Jesus não cura para si mesmo pelos benefícios de gratidão, louvor ou devoção. Ele cura as pessoas simplesmente porque esta é a obra de seu Pai (João 5:17).
Depois desta passagem, Jesus continua dizendo: “Em verdade vos digo que o Filho não pode fazer nada por si mesmo, mas somente o que vê o Pai fazer… De fato, assim como o Pai ressuscita os mortos e lhes dá a vida, assim também o Filho dá a vida a quem quer” (João 5:19, 21).
O Evangelho de João diz-nos desde o início que “ninguém jamais viu a Deus”. É Deus o único Filho, que está perto do coração do Pai, que o fez conhecido” (João 1:18). O Deus que Jesus torna conhecido é um Deus que não discrimina ao dar bons dons, um Deus que quer que todos tenham vida, e a tenham abundantemente (10:10).
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